CAPÍTULO 11................Anos 80


1983
Da janela semi aberta
Num dia chuvoso
O vidro molhado
Fresta de sol lambeu o meu semi rosto
Numa manhã semi fria .
Foi assim que pensando em ti partiu meu coração por uma estrada semi nua. . .
Os céus atingiram os meus olhos
E sob trovões na manhã escura o que vi foi uma
semi lua !
Foi-se embora meu coração aos batuques
Em meio ao luar na noite que caia
Lembrando a tua imagem que nunca escurecia.

Segregara-se minh'alma num
semi tempo
Porquanto meu corpo fora alvejado
Num
semi oportuno momento.

E eis que na mesma estrada
semi nua
Soltei um
semi gritoE ele voou no espaço como um semi morto, numa semi hora,num semi oportuno momento.

Semi lança
por isso cravou-se em meu peito
Porquanto triste e vão pensei ser na vida o meu semi grito.Porém neste instante
Vi cair do céu em poça d'água folha seca repentina
Enquanto semi raio fulgurante resvalou-se em pedra iluminando a água cristalina
Onde repousou por fim
a arte divina

Voltei-me então à estrada peregrino
A cantar por todo canto
Minha esperança menina: Mediatriz ! !
Que adormece em meus braços nesse instante sem mais rima.


1988
Voaram flores no céu
Num tempo solene
O aroma da paz acalentou o mundo
O choro matreiro, um breve calafrio
Tudo isso se foi com um canto singelo
Que desfigurou faces, assolou corações.
Toquei em seus lábios e o que vi naquele instante
Foi  pureza que vitória em batalha nada paga.
A ti levei meu mundo quando ainda éramos crianças
E te disse que não valia
E que somente a ti devia o triunfar do meu peito e
O possível  ver de nossa felicidade neste mundo absurdo
Além do querer de uma só casinha
Onde pudesse repousar no teu colo
E fingir que a vida ainda era azul.
  

Não te prometo fortaleza infinda
A ti proteger do aço
Mas sim a fragilidade do meu corpo

 Ser espetado em seta antes do teu sofrimento
 E ao fim de cada dia voarei desesperado ao teu encontro.

1991

 Pouco depois de haver terminado de reformar nosso ninho
Fui alvo de um bodoque

 Que alvejou-me  sorrateiro em uma esquina de meus dias. 
Mais precisamente na esquina dos anos noventa com noventa e um.


1981


O céu desbotou junto com a minha calça jeans

O sol se escondeu
E eu quase me perdi
O mundo girou e eu te esqueci no Japão.

Uma vez
Eu te vi no jardim
Você sorriu
Eu nunca me esqueci.

Fechei os olhos
O tempo passou por mim
Me lembrei daquela noite
O piche, quanta coisa maluca.
Ao seu lado me sentia moleque
Deixava de ser sério
Mostrava a língua pro rei.


1983 

Época de provas
Na madrugada ouvi uma bagunça de pássaros lá fora
E percebí que havia atravessado mais uma noite.

Logo veio o sol, logo de manhã
E eu desejei ter um coração de passarinho
De um leve pardal pequenino.
Mas eu nunca consegui Kasinha
Um bodoque por vezes me acerta no dia
E suas pedras despedaçam-se em meio ao meu peito
Que embora forte não se recompõe. . .
Pois eis que não é forte . . .
É frágil !!!
Ontem de manhã
Quando ia para faculdade
De dentro do carro avistei o tal bichinho
Que se metera em meio a uma fresta
Na tela do muro de uma grande firma.
Voou depois tão leve . . .
Como se o mundo fosse leve Kasinha !
O fato é que ele cantava como se o ar fosse puro
E a vida doce e singela.
Sorri.

O carro andou
Me agarrei em peças
 para continuar vivendo.



1989

Estou aqui, neste dia calado
Pensando em tudo.
Desde o mergulho de cabeça no Sistema Financeiro da Habitação
Até o cair na mata com pequeno físico
Porém com a determinação de todos os meus gestos impulsivos
Gritei como o incrível Hulk !!!
E encarei os monstros que possuiam cifrões na testa
Somente para livrar-te
E nos levar a canto mais ameno.
Casei, cacei o ano inteiro e te levei a caça
Correndo feito um louco atrás de um onibus maluco.
Chorei, sorri, troquei um pneu, fui ao supermercado, me aborreci.
Acertei, errei, me revoltei, consenti.
Vou fazer vinte sete anos e ainda me sinto tão menino
Tão cheio de coragem, de medo, de determinação, de impulsividade.
Tão cheio de vergonha, de falta de vergonha.
Tão cheio de complexos, de felicidade, de nervosismo . . .
Sou uma salada russa
Mas estou aqui do seu lado
Não se esqueça nunca disso.


1982Galho verdinho, lirio da paz
Quanta derrota neste olhar, anjo.
Sonhos leves, leves como teu sono, teus seios, tua boca.
Na noite fria do meu caminhar, na noite fria do meu esquecer
Te deixo, volto para casa
O carro agora já rasga a noite que em pedaços se recompõe .Me calo.
Durmo atrasado acordando cedo
Sonho que nunca passei de um sonho
E que me peguei sonhando em todos os momentos que vivi.
Sonho agora e não tenho tempo
Já acordei, já vou dormir.
Saio de casa e o pessoal está dormindo
Volto do plantão e eles já estão dormindo.
Quanto rezar por este sono anjo
Umidecer teus cílios
Mergulhar numa gotícula azul de uma lágrima tua
E me ferir sonhando que magoei a ti.


1982

Paira perfumada esta nuvem de sonhos
Sou filtrado a um outro mundo
Capto as emoções mais singelas
Retida no peneirar de desejos materialistas. . .

Sonho tudo certinho
Um canto para amar
Outro fazer poesia
Noutro comer melancia.

Mas para que tanto pensar no dia
Na doce poesia, na eloquente melancia ??
Se quanto mais penso a única saída que encontro é tristeza e melancolia. . .
Pena que a melancia tem tantas sementes.


1981
Já é quase noite

Volto do colégio para casa
Posso ver o reflexo das luzes sobre o asfalto molhado
Automóveis vão deslizando avenida abaixo, tentando alcançar o infinito.
Um sujeito caminha apressado pela outra calçada
Tem o olhar distante...
E o sujeito era eu !!! E eu estava ficando maluco.

Na imensidão do silêncio ( O silêncio de Deus )
Preso ao nível da dor de um Supremo Intelecto(Deus)
Que sofre mais que todos pela miséria humana
Há morte e renascer em meu peito.

O grito lancinante
Minhas lágrimas já quase eternas
Que o vento sopra para o infinito das convulsões do meu pranto

O tempo triste que vejo às margens de um rio de sangue ( crimes, mortes )
Encher com ar sereno ( acomodamento de todos )
As velas de um coração dolente
Que vaga perdido na escuridão do relento.
E esse choro que cato na rua é às vezes liberto
Da mão de ferro que o aperta entre os dedos
De um nítido condicionamento.
Penso então mediatriz que você sou eu
E que todos deveriam "um só nós ser"

De mãos dadas caminharemos juntos
No espaço desta praia
Do rio que se transforma em mar de azul e flores
Diante de teu sorriso sincero
Que buscará no horizonte dos meus olhos
O mais singelo sentimento.


Colherei a flor mais linda
Colocarei em teus cabelos
E no momento em que acordar
E perceber que foi tudo um sonho...
Apunhalado no peito, nos braços
Experimentarei mais uma morte em minha vida.
Mais uma morte no vale de minh'alma ao saber que é tudo mentira!
 


1979 Ninfa e Delito ( Profetizando seu futuro )

O sol correu ardente perdendo o lume no horizonte
E a pedra atirada por um garoto fez quebrar a taça dilacerando vida.
Fazendo-a escorrer como se fosse um líquido.
O garoto frustrado e moribundo também põe-se a correr lacrimejando sangue
Enquanto alguns pássaros rasgam o céu esporadicamente.
Na profusão ausente do sol que já fora amigo
O vento triste se fez presente secando suas lágrimas.
Chora de dor ao ver que a ninfa nua que o embalara em sonhos
nos teus seios puros
O desilude agora ao se mostrar quimera.
Cala-se, porém não consente
A sua imagem delinquente
E quando lembra o consolo e sorriso
Que outrora fora seu resplandecente
Vê sua alma e corpo em estilhaços.
Nem força tem a por nas pernas
Para que entrem em movimento
No instante em que chama por uma fuga melancólica.
Por mais que tente, percebe que as desgraçadas sentiram na carne e músculos tal ambiente e põe-se a arrastá-las para sair dali.
Ergue os olhos e a humilhação vem-lhe ao encontro rasgando-lhe a face.
Já posso ve-lo no horizonte com a mente a fustigar:
Qual foi o seu delito ?



1981
Ontem,
Mais ou menos às nove e meia da noite morreu um menino
Um menininho de tres anos de vida
Ele morava num jardim
No interior do peito de um homem
Onde só os sentimentos puros imperavam.
Matrhiéuzinho corria alegre colhendo todas as flores do jardim
E as atirava para um anjo em forma de mulher.
Um dia, em meio a tanta pressa
Alguns espinhos cravaram-se nas mãos do menino
E algumas flores foram entregues ao anjo embebidas em sangue.
O anjo chorou
E suas lágrimas foram setas
Que caíram sobre o menino.
E o menino morreu.
Morreu aos poucos
Pois não podia acreditar que o anjo
Não era anjo
E preferiu morrer a ter que odiá-la.




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