CAPÍTULO 10 .......... Mediatriz
Grande chuva novamente molhou a terra
E sendo meu coração um perigoso terreno
Sobre o qual tenho pouco domínio
Onde o solo é extremamente fértil, vulnerável a todas as sementes
Boas e maléficas
Brotei pois com certeza do meu solo
E então ressuscitei-me para mim.Devo dizer, antes que desconfiem, que a semente que me fez ressucitar
Era linda e graciosa
Mediatriz, com quem eu tanto sonhara
E que agora vinha para meu conforto
Após cada batalha travada no vale de minh'alma
Diante das bestas feras que assolam este mundo.
Da escuridão do espaço caiu o orvalho sereno
Gotículas brilhantes que foram umidecendo aos poucos o asfalto indiferente
E que provando a união
Aos fragmentos me enxarcaram de medo e saudade.
Deslizaram-se por entre janelas adormecidas
Por sobre faces sofridas
De muita, muita gente esquecida.
E o casarão universo, com tais janelas já citadas
Foi morrendo enternecido
No meio da madrugada.
Menino, menino
Totalmente menino
Fugi correndo descalço pela mata virgem
E levei a ti Mediatriz
Meu coração num copo d'água. (1981 )
Procurei abrigo
Em tua face sincera
E nos teus seios
Parti para um outro mundo
Onde pude por instantes me esquecer de lágrimas
E abrir o meu sorriso escancarado e feio
No brilho dos teus olhos os meus olhos
Meus sonhos
Por entre suspiros teus embalados
Nas profundezas do mais oculto vale
No interior de minh'alma o meu amor por tua'lma.
Naquele momento pude ver uma criança a correr pelo vale
E essa criança era meu filho
E eu era ele, o meu filho era eu
E eu ... ficava me vendo ao longe.
Vida efêmera
No infinito dos olhos de um menino de coraçãozinho azul .
Tenho asas e sou monstro !
Mas também era menino e as vezes ainda tinha vontade de mostrar a lingua pro rei!
Pensei no seu nome e resolvi chamá-lo Mathiéu, por ter lido na época a "Idade da Razão "de Jean Paul Sartre.
Sua mãe eu já amava
Porém ela nem sabia que eu existia.
Era um anjo que pelos arredores do vale sempre em silêncio e frágil passeava.
- Mathiééééu!!!!!!! Mathiééééééu !!
Mathiéu gostava do anjo
Acho que ela gostava dele também.
Mathiéu costumava chamar o anjo de Kasinha
Kasinha . . .
Kasinha coração, coração kasinha.
De manhã Mathiéuzinho abre a janela
Vê o sol, as flores, um riozinho, o verde em volta. . .
Perto daquelas pedras o verter do sangue.
Na atmosfera azul a liberdade de sentimentos profundamente sinceros
Destes que nascem ao acaso. Mathiéu gosta da cor do sangue.
Acha tão bonito, tão puro !
Coitadinho, nem sequer imagina que lá fora, não muito longe de sua pequenina infinita kasinha
Aquele mesmo líquido que é vida é sinônimo de morte e ainda causa horror e medo.
Mathiéuzinho não sabe.
E enquanto isso, ao invés por exemplo de jogar bolinha, ou outra brincadeira qualquer
Fica parado por horas e horas olhando aqueles pássaros coloridos que voam por de trás das colinas
Em direção a um jardim também tão florido
No interior do peito de um homem
Que por acaso é um índio
Que por acaso é um menino, assim como Mathiéu
E que por acaso. . .
Sou eu.
* * *
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