CAPÍTULO 4 ..... Minha primeira morte
E era um sonho, e era dia
Não sabia se morto estava ou se vivia
E eis que de repente
Vi jorrar de uma fonte
Tristeza ardente e alva . . .
Percebí que a citada fonte eram os meus olhos
E vi dos meus olhos
Feridos pela crua sordidez da atmosfera
Formar-se um rio de sangue
Das ruas quietas e frias
Das praças emudecidas do meu ventre
Surge num vago instante
Do peito a fantasia pura e morna
Que nasce
Sobe por uma escada enegrecida
E se esvai ao longe. . .
Uma glândula secretou um líquido
Que deixou tenro meu coração
Transformando-me num sentimental bobo
Como nas novelas de televisão.
Mal sabia que essa seria minha desgraça
E meu profundo sofrer futuro.
Ergui os olhos
E uma flor embebida em sangue
Caiu sobre o meu rosto
E então eu sonhei muito:
- Moça, por favor.
- Minha senhora, por favor
- Caço a borboleta verdade, eu . . .
Mas a medida em que me aproximava
As imagens iam sumindo
Como já disse somem
As bolhas de sabão.
Foi então que quase fui atropelado
Por um enorme bando
De velhos maltrapilhos
Que buscavam força não sei onde
Para gritarem ferozmente
Uma espécie de ladainha absurda:
" Vieram do levante nos amedrontar
Somos de ferro, vamos durar
Vieram do levante pra nos castigar
Todos em pé, vamos gritar !
Vieram do levante nos abominar
Sorrimos pouco, choramos mar.
Vieram do levante nos ignorar ! ! "
Em seguida foi a vez de meninos de rua famintos
Que ecoavam um canto
Sem nenhum sentido
E também absurdo:
" Tô com frio, tomo suco gelado !
Tô com frio, tomo suco gelado !
Tô com frio, tomo suco gelado ! "
E os meninos de rua que tinham no
cheiro da cola, seu mais sagrado manto
Deram lugar a um andarilho esfarrapado
Que gritava:
" Cato papel !
Compro o quilo !
Peso dinheiro !
Vendo satisfação! "
- Meu senhor, quantos contos vale o dia ? ( perguntei )
- Talvez o quanto se cata em papel.
- Em quilos, em gramas . . . é óbvio.
- Em toneladas de pensamentos
No interior de uma cabeça pequena
Fazendo pressão, querendo estourar as artérias. . .
- Enfim, não dá prá se saber.
- A única certeza é que tudo passa ! Tudo !
- Inclusive e principalmente nós
Tripulantes dessa mesma espaçonave
Que só Deus sabe o destino.
Àh SE TODOS TIVESSEM CONSCIÊNCIA DESTA VERDADE
Que é tão clara quanto se dizer que pau é pau e pedra é pedra.
Mas é incrível ! ! ! ! !
-A grande maioria deixa-se iludir
Noventa e oito por cento das horas de suas vidas
Para apenas dois por cento de lucidez
A qual se dá normalmente
Na antesala de um velório qualquer.
-Ah, se esse velório pudesse estender-se para o resto de nossas vidas
EVITAR SE IA TANTA DOR !
Talvez pudessmos aprisionar a VERDADE em nossos corações. . .
- O senhor disse V E R D A D E ??
- Caço a borboleta verdade !
E eis que ouvindo estas palavras
O andarilho sentiu grande espanto e sumiu. . .
Como somem as bolhas de sabão.
Vaguei pela cidade
E vi um morcego debruçado na janela de uma igreja antiga
E ele queimava com os olhos
As pessoas na praça . . .
Avistei grande número do que resolvi
chamar humanóides. . .
Deitados ao sol em uma praia
Tal qual répteis
Como são estranhos os humanóides . . .
Em uma fila grunhiam, pisoteavam-se.
No transito bradavam, bradavam ! !
E eu também vi outro dia
Um morcego na rota
Um morcego na rota, um morcego na rota . . .
* * *
Sonhei então, como bom brasileiro
Ter feito um gol eterno
Um gol de vida e de morte
Que trouxe o brilho de milhões de sorrisos. . .
Que ofuscou o brilho das estrelas
Que fez funcionar uma engenhoca
Que libertou vários pássaros
Que acariciaram o vento
Que acariciou dois grandes seios
Que banharam Africa de leite
Que matou a fome das crianças
Que compuseram um novo canto
Que fez florescer um novo mundo. Pena que na vida real este meu gol
fora anulado . . . impedido !
Pior, perdera o controle, fora expulso de campo e acabara vendo o
meu sonho ser embassado em meio a fumaça dos fogos da torcida.
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